Ao longo do tempo
•novembro 11, 2010 • 7 ComentáriosEscaninho
•outubro 24, 2010 • Deixe um comentáriopor acaso
procuras pelo dia
como se fora
forasteiro
de uma mesma avaria ?
ou escondes
pelo escaninho
tua sombra
que te abandonas ?
por acaso
vês crostas e carinhos?
consegues caminhar
por entre
suas sanhas e escândalos?
vês
ao redor do rio
a lua que acusastes?
como uma escória
que se alimenta
por sobre seu corpo imundo
e encravado de trevas?
por acaso
vês
pelo trilho da rua
as tuas vestes
que já não conseguem
a permanência
das suas cinzas e esquinas ?
ou ´
já não percebes
que a vida
assim
como a sua retina
requer
uma cortina
sortida de sáfaros e réstias ?
Cgurgel
Albergue
•outubro 21, 2010 • Deixe um comentário
lembro-me de uma voz
como se fosse a vida
em desalinho
lembro
de uma cintilante aventura
onde nós dois
nadávamos sobre o amanhã que nunca se declarou
lembro tão bem
de músicas e relíquias juvenis
assim
a beira
da noite e seus passantes
lembro
como se fosse ontem
de uma multidão que acenava
para a lua
nua e linda
lembro
toda vez que lá passo
de um perfume de vida e jardim
que já sem corpo
corre e desaparece
lembro
de tréguas e patins
como desfilando
pela chuva
insólita e desperta
lembro
já sem pisar no chão
de anotações que enviei por pensamento
de avisos de placas e microfones trêmulos
lembro
tão sem culpa
do clarim que alguém disparou
como um selvagem e mítico adereço
lembro
de um dístico
que espalhou pela cidade seu suor
tudo tão assim museu e vivo
lembro
escondido por entre árvores
de um dia
onde tudo apareceu
como porta de um céu que se foi.
Cgurgel
Fábula
•outubro 21, 2010 • Deixe um comentário
tudo
tudo mesmo
está como não deveria estar
são essas xícaras sujas pelo meio da sala
esse ar romântico e introspectivo
do quadro na parede
o soalho
onde perambulam
restos de cerveja
e um pouco de mim
a porta range
o frio que dela vem
me faz mais humano
assim como essa noite
e seus zumbidos
assim
como todos os pensamentos
que se juntam aos meus
desejos e sonhos
tão desalinhados
e elegantes
ao mesmo tempo
tudo
absolutamente tudo
necessita de reparo
meu par de meias
meu sofá que chora
minha bendita cadeira
e absolutamente
tudo que me cerca
parece que quando olho
para o espelho do quarto
eu já não me vejo por aqui
tudo assim
é como se fosse um
passado que não vivi
tudo que se move
me faz perder alegria
e hoje
já não penso
mais em partir.
Cgurgel
Síncopes
•outubro 21, 2010 • Deixe um comentário
tudo
acinzelou-se
e vazio
tipo
a lâmpada voadora
e mistério
arvoredo
que verte
busca e flor
um
portão
sem cadeado
e solteiro
nuvem
que bole
respiração
e espelho
um pouco
do que
o sino
falou
no meio da terra
que vira
uma enorme cachoeira
retiro
de uma cítara
embrulhos e sêlos
século
xinga
uma parede
aprisionada de bonecos
e a vela de um barco
se afoga no mar
que passa
menos
que eu sei
o quanto
o cúmulo
se deu.
Cgurgel
Segredo secreto
•outubro 21, 2010 • Deixe um comentárioTeia
•outubro 21, 2010 • Deixe um comentário
gravo tudo
que pelos meus olhos passa
o vôo do condor
uma leve cachoeira
ou um andar descompassado
registro tudo
que meu coração sente
o eco que do escuro pulsa
o choro de um animal abandonado
a baderna de um sítio desconhecido
olho tudo
do que meus sentimentos transbordam
o que tinha acertado com aquela moça
a lista de filmes difícies
o regresso de uma lembrança infinda
lembro tudo
do que a minha história esquece
o primeiro banho no límpido lago
uma bicicleta incômoda e sem freios
o bilhete que um dia rasguei
penso tudo
que a adolescência revira e refuga
um lenço esmaecido pela chuva temporã
o pulso do vigia com a arma vazia
estico tudo
do que o caminho apaga
o fogo de retorcidas flôres mortas
o alarido de um carro abarrotado de vultos
prendo tudo
que o vento e seus escravos alardeiam
a vizinha que corre louca pelo matagal
a leitura de um versículo de um monólogo
chamo tudo
que os peixes e seus anzóis represam
a dúvida de um cavalo ensimesmado com seu medo
a radiola que destampa músicas esquecidas
findo
ao redor de fitas e fotos perdidas
quando a semente brota ao sul do horto
com as vozes que escutei e somem descarriladamente.
Cgurgel
Sombra
•outubro 17, 2010 • Deixe um comentárioa sombra
que agora me chama
é tão parecida
com a rua
onde morei
onde passeavam
cigarros
vultos
badernas
e vazios
a sombra
sempre me chama
sempre me quer
por perto
ela se sente
solitária
e boquiaberta
assim
no meio da noite
a sombra
e eu
caminhamos apressadamente
por jardins
vielas
esquinas
entre a sombra
e eu
o ar da desgraça
e da desunião humana
me retiro da rua
e me recolho ao meu canto
hoje
pensei
mais uma noite à êsmo
só mesmo uma sombra
e suas dificuldades
de revelação
para me fazer
um homem
solitário
e boquiaberto.
Cgurgel
Diáspora
•outubro 17, 2010 • Deixe um comentárioquisera um dia
caminhar pela estrada
e nunca mais voltar
pular
por sobre nuvens
faróis
poeira
passagens
devorar milhas
de árvores
e fogueiras
como caminhante
que fala com o tempo
e não retorna
quisera
um dia
ser um viajante
que deflora a lua
e sabe que nunca
mais
retornará para seus rios
e floras
quisera ser
um desbravador
de mapas
planícies
e esconderijos
como um
falcão que nem presta
roendo ruinas de setas
quisera
nunca parar de me distanciar
de pastos e cercas
pelo meio da estrada
como um farejador
sísmico binóculo
lente
ambulante floresta
quisera
sim
assim
sonhar
por entre míticas pérolas
pedras
de um terra
que virá.
Cgurgel